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Trabalhadores das IPSS sofrem de ‘burnout’

Foto: Unsplash.com (Alex Boyd)
Técnicos e diretores das Instituições Particulares de Solidariedade Social de Portugal sofrem de cansaço extremo, sobretudo os que fazem noite.

Cerca de 40% dos técnicos e diretores técnicos das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) de Portugal sofrem de ‘burnout’ (cansaço extremo), revela um estudo realizado pela Associação Nacional de Gerontologia Social (ANGES) a 339 trabalhadores.

A avaliação multidimensional, a que a agência ‘Lusa’ teve acesso esta quarta-feira, 26 de agosto, conclui que a grande maioria dos trabalhadores inquiridos (73,7%) sente-se satisfeito com a sua vida, mas somente 59,9% “perceciona a sua saúde física e psicológica como razoável”.

Em declarações à ‘Lusa’, o coordenador do estudo, Ricardo Pocinho, adiantou que os trabalhadores que laboraram por turnos apresentam valores de ‘burnout’ mais elevados, sobretudo os que fazem noite.

Segundo o investigador, nos casos em que existe maior envolvimento das chefias os níveis de cansaço extremo baixam e regista-se também um comprometimento laboral mais elevado. Ricardo Pocinho adianta que a formação profissional dos inquiridos ajuda a diminuir os índices de ‘burnout’, que no caso de auxiliares e ajudantes atinge os 87%, de acordo com um outro estudo realizado há dois anos.

O estudo revela também que 80,5% dos inquiridos considera o seu salário injusto, embora a esmagadora maioria (95,3%) refira estar satisfeito com as suas funções profissionais.

Cerca de uma centena dos trabalhadores respondeu ao inquérito do estudo já depois de declarada a pandemia da COVID-19 e, segundo Ricardo Pocinho, “não houve alterações significativas”.

“A pandemia agora serve de desculpa para muita coisa, mas antes as organizações sociais já tinham elevados problemas”

Ricardo Pocinho, coordenador do estudo realizado pela ANGES

A “Avaliação Multidimensional dos Trabalhadores das Organizações Sociais em Portugal — ‘Burnout’ e ‘Engagement’” teve como objetivo analisar os fatores de risco para o desenvolvimento de esgotamento físico e mental nos trabalhadores e nos responsáveis de cargos diretivos.

Além do coordenador Ricardo Pocinho, a equipa de investigadores contou com a participação de Pedro Carrana, Bruno Trindade, Cristóvão Margarido, Rui Santos e Gisela Santos.

O estudo da ANGES, sediada em Coimbra, que teve início em setembro de 2019 e terminou este mês, foi dirigido a meio milhar de trabalhadores, tendo respondido 339, “valor acima das expectativas, já que metade era suficiente para medir a amostra”, frisou o coordenador. Tratou-se de um estudo piloto que vai ser alargado a todas as IPSS portuguesas a partir de setembro, “de preferência” com o apoio do ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.