São apenas previsões, mas são suficientes para nos deixar apreensivos. A economia portuguesa vai entrar em recessão (isso é certo) e a queda do PIB até ao final do ano pode variar entre 3,7% e 5,7%.
As previsões foram divulgadas esta quinta-feira, dia 26, no boletim económico de março do Banco de Portugal (BdP), que já inclui o impacto económico provocado pelo novo coronavírus.
Há dois cenários e a única certeza de que vamos mesmo entrar em recessão. Quanto aos cenários, o primeiro é o cenário base que assume que o impacto económico da pandemia é “relativamente limitado”, antecipando-se uma contração de 3,7% do PIB.
O segundo cenário é o adverso pois assume que o impacto é “mais significativo devido à paralisação mais prolongada da atividade económica em vários países” e antevê uma queda do PIB de 5,7%. Ou seja, mais do que no pior ano da crise financeira: em 2012, o produto interno bruto caiu 4%.
“As perspetivas para a economia portuguesa deterioraram-se abrupta e significativamente em resultado do impacto da pandemia COVID-19”, explica o banco central em comunicado, citado pela ‘ECO Sapo’.
“A pandemia corresponde a um choque económico adverso com efeitos muito significativos e potencialmente prolongados no tempo em termos do bem-estar dos cidadãos e da atividade das empresas.”
Boletim económico de março de 2020 do Banco de Portugal
Cenários feitos, o pico do choque deverá acontecer no segundo trimestre, iniciando-se uma recuperação no segundo semestre.
Segundo as últimas previsões do Banco de Portugal, feitas em dezembro de 2019, apontava-se um crescimento do PIB de 1,7%. Obviamente que tudo mudou devido à COVID-19.
Esta quarta-feira, dia 25, o ministro das Finanças Mário Centeno admitiu que o país tem de se preparar para enfrentar uma recessão.
Desemprego a subir e investimento a baixar
Caso a economia encolha 3,7%, como prevê o cenário base, a taxa de desemprego, que está atualmente na casa dos 6%, irá subir para os 10,1%.
O Banco de Portugal espera que o consumo privado se reduza em 2,8% este ano, refletindo um aumento de poupança das famílias face ao “ambiente de grande incerteza” e a “ligeira queda do rendimento disponível real”.
Esta queda é mitigada pelas medidas que o Governo já anunciado, “antecipando-se um aumento significativo das transferências públicas para as famílias em 2020“, o que levará a um crescimento do consumo público na ordem dos 2,1%.
Quanto ao investimento, a formação bruta de capital fixo deverá cair 10,8%, “devido à forte redução do investimento empresarial e, em menor magnitude, do investimento residencial”, explica o BdP. Será também a incerteza a condicionar o investimento das empresas.
Também as exportações de bens e serviços vão cair a pique (-12,1%), assim como as importações (-11,9%). O destaque (pela negativa) vai para as exportações de turismo e transportes serão “fortemente afetadas pelas limitações à movimentação de pessoas e deverão registar uma queda acentuada”.
Mas nem tudo é mau. Para a evolução dos preços, o banco central assume que “prevalece algum efeito descendente sobre os preços” dada a natureza deste choque, levando a taxa de inflação a permanecer “em níveis baixos ao longo de todo o horizonte de projeção: 0,2% em 2020, 0,7% em 2021 e 1,1% no último ano do horizonte”.
15 Comentários