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As montanhas da Madeira

Foto: Marta Nunes

Portugal é, já se sabe, um país de muitos contrastes concentrados num território relativamente pequeno. Isso é ainda mais evidente na ilha da Madeira, onde os seus “acidentes” geológicos produzem formas épicas que nos deixam siderados. É aqui que fica o terceiro ponto mais alto do país – o Pico Ruivo. É um destino imperdível cujo roteiro nos é aqui traçado pelo Instituto das Florestas e Conservação de Natureza da Madeira, IP-RAM. Espaço ainda para nos apresentar o importante trabalho desenvolvido pelo Projeto LIFE Freiras, na luta contra a extinção destas bonitas aves endémicas do arquipélago.

Os tesouros do Maciço Montanhoso da Madeira
A ilha da Madeira, com os seus 1862 metros de altitude máxima, apresenta-se ela própria como uma “montanha” única no meio do Atlântico. É nos picos desta “montanha”, acima dos 1400 metros que encontramos o Maciço Montanhoso da Madeira. Este ocupa toda a cordilheira central e divide a vertente sul da vertente norte da ilha, apresentando relevo acentuado com vales profundos e encostas escarpadas, sobretudo provocado pela erosão das chuvas nas rochas de origem vulcânica.

Na parte oriental do Maciço situam-se os picos de maior altitude, sendo os mais relevantes, o Pico Ruivo (1862 metros) e o Pico do Areeiro (1818 metros). Na parte ocidental destaca-se o planalto da Paul da Serra, considerado o mais importante local de recarga dos aquíferos da Madeira.

O Maciço Montanhoso, com a sua exuberante paisagem, é uma área protegida abrangida pela área de Parque Natural da Madeira e pela Rede de Monumentos Naturais da Região Autónoma da Madeira. Pela geodiversidade e biodiversidade que comporta, é uma área prioritária para a conservação de espécies e de habitats a nível internacional, através da sua inclusão na Rede Natura 2000. A gestão da área protegida é da competência do Instituto das Florestas e Conservação de Natureza, IP-RAM.

Associada à riqueza natural, as montanhas da Madeira são um recurso turístico que hoje em dia atraem milhares de turistas e desportistas para realizar atividades lúdico-desportivas. As caminhadas organizadas e as provas rainhas de trail na Madeira são atividades dominantes ao longo da deslumbrante vereda que liga os picos mais altos. Outras atividades como escalada, observação de estrelas, observação e escuta de aves, ou a simples visita ao Centro de Receção da Freira-da-Madeira Dr. Rui Silva no Pico do Areeiro e aos miradouros dos picos mais altos, são outras atrações que o Maciço Montanhoso oferece.

O Projeto LIFE Freiras – melhoria do estado de conservação das Freiras, aves marinhas endémicas do arquipélago da Madeira

É no Maciço Montanhoso Oriental que se encontra uma das aves marinhas mais raras e ameaçadas do Mundo – a freira-da-madeira. É uma ave que vive maioritariamente em alto mar – pelágica, mas que vem a terra uma vez por ano, exclusivamente a pequenos patamares de vegetação nas escarpas dos picos da ilha da Madeira fazer os seus ninhos. Esta é uma espécie que está “Em perigo” pois a sua população conhecida ainda é muito pequena (65 a 80 casais), os locais de ninhos são muito restritos e as ameaças continuam ao longo dos tempos com a presença do homem.

Assim, há cerca de um ano iniciou-se o projeto LIFE Freiras, um novo projeto de conservação de natureza a decorrer no arquipélago da Madeira com as aves marinhas endémicas nas suas áreas de nidificação: a freira-da-madeira no Maciço Montanhoso Oriental na ilha da Madeira; e a freira-do-bugio no Bugio nas ilhas Desertas. A freira-do-bugio considerada uma espécie “prima” da freira-da-madeira.

Após várias décadas de estudo e proteção destas espécies únicas, o projeto LIFE Freiras pretende melhorar as condições do habitat de nidificação destas aves e minimizar o impacto das principais ameaças de que são alvo, como predação por espécies invasoras introduzidas – ratos e gatos que predam diretamente os ovos e as aves, degradação e perda do habitat de nidificação, devido por exemplo às alterações climáticas que consequentemente resultam em desastres naturais, incêndios, erosão e proliferação de plantas invasoras. São também ameaças às Freiras, a poluição luminosa e alguma falta de conhecimento sobre a biologia destas espécies de aves.

Foto: Rubina Basílio

Com o LIFE Freiras, principal-
mente, pretende-se modernizar as
ações de conservação com recurso a novas tecnologias, garantindo mais e melhor acompanhamento destas aves no futuro, o que irá permitir aumento de conhecimento e melhoria de condições de trabalho. Também identificar todas as áreas de nidificação e disponibilizar novas áreas com ninhos artificiais. Para combater as ameaças, pretende-se erradicar e controlar de forma mais eficaz as espécies invasoras, minimizar a poluição luminosa e regulamentar as atividades de natureza que perturbam as áreas de nidificação.
Além destas, aumentar a sensibilização e conhecimento do público são ações fundamentais.

No primeiro ano de projeto, foram dados os primeiros passos para preparação, planeamento e arranque de muitas destas ações. A melhoria dos acessos às áreas de nidificação, testes e criação de protocolos de utilização de equipamentos no terreno (câmaras, gravadores automáticos), organização e preparação de bases de dados, censos costeiros de aves marinhas, criação de materiais divulgativos e programas de educação ambiental e formação, foram ações já iniciadas.

Projeto LIFE Freiras

O projeto LIFE Freiras - LIFE Pterodromas4future (LIFE20 NAT/PT/001277) - é coordenado pelo Instituto das Florestas e Conservação de Natureza, IP-RAM (IFCN, IP-RAM), em parceria com a Sociedade 
Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e com a XGT-Group. É 
cofinanciado a 70% pelo Programa LIFE Natureza da Comissão Europeia e 
está a decorrer desde outubro de 2021 até setembro de 2026.