Vivemos um período muito volátil, tornando extremamente difícil qualquer exercício de previsão, mesmo aquele em que o horizonte temporal é de curto prazo. Esta enorme incerteza é diariamente sentida por todos os agentes económicos – famílias, empresas e outras organizações do setor público e privado – influenciando as suas expectativas e comportamentos e condicionando a evolução da atividade económica.
No setor empresarial privado, o planeamento que faz a médio e longo prazos continuará a ser duplamente condicionado, pelo enquadramento nacional e internacional.
Nas projeções divulgadas em novembro, a OCDE aponta para as tensões geopolíticas, face à elevada exposição mundial ao petróleo da Rússia e de países do Médio Oriente, e para as restrições da política monetária, que se deverão manter nos próximos dois anos, não só na área euro como nos Estados Unidos e países emergentes.
Também em novembro, no relatório das previsões de outono, a Comissão Europeia incluiu novos riscos para 2024, com destaque para a quebra na demografia empresarial, em que as empresas altamente endividadas poderão entrar em falência, e para a resistência na desaceleração da inflação, fruto de choques energéticos e de aumentos dos rendimentos nominais.
Consequentemente, projeta-se uma desaceleração do crescimento económico mundial, com impacto na diminuição da procura externa dirigida à economia portuguesa, à qual não é alheia a evolução desfavorável nos nossos principais parceiros comerciais.
A nível interno, o Banco de Portugal, no relatório de estabilidade financeira, divulgado também em novembro, alertou para uma pressão acrescida nas contas das administrações públicas, em resultado do abrandamento da atividade económica, conjugado com a inversão do ciclo de redução das despesas com juros, num contexto de ainda elevado endividamento, e para a dificuldade das empresas, em particular as mais vulneráveis, em assegurar o serviço de dívida, condicionadas pela persistência de taxas de juro elevadas e baixas expetativas de crescimento económico.
No terceiro trimestre deste ano a economia portuguesa contraiu em cadeia (-0,2%). A queda do PIB em cadeia ocorreu em 13 países da União Europeia, sendo que em sete se registou mesmo uma recessão técnica, o que constituem sinais extremamente preocupantes.
No que se refere a Portugal, a deterioração da atividade económica, face ao trimestre anterior, é explicada integralmente pela evolução negativa da procura externa líquida, isto é, das exportações líquidas de importações, em resultado da redução das exportações de bens, mas também nos serviços. Entre janeiro e setembro deste ano, o valor da intensidade exportadora atingiu cerca de 48%, aquém dos 50% observados em 2022. Embora mais longe de se atingir neste indicador a meta de mais de 60% até 2030, não podemos, nem devemos, esmorecer esta ambição quanto ao peso das exportações no PIB.
Luís Miguel Ribeiro
Presidente do Conselho de Administração da AEP