Acredito que todos trazemos algo que nos diferencia, logo desde a nascença, e embora não sejamos educados a dar atenção às coisas vulgares da vida, são essas que nos tornam especiais e capazes de fazer algo de novo e transformador.
Demorei 50 anos a perceber isso! Desde muito nova que sentia um vazio, uma constante inquietude em querer saber mais e não me conformar. Na minha profissão como professora continuei a andar de escola em escola e a perceber que apesar da evolução tecnológica havia muita coisas que não mudavam e, sentindo-me incapaz, comecei a ficar cada vez mais triste ao ponto de adoecer. Depois do meu divórcio, de perder amigos para o suicídio e perceber alguns padrões que se repetiam nos meus filhos, comecei a canalizar toda a minha energia na pintura acabando por realizar quatro exposições.
Mas não chegava. Precisava chegar a mais pessoas e aceitei o convite para participar como coautora num livro com o título “Juntas es mejor, Resiliência feminina en tempos de incertidumbre”, juntamente com mais 59 mulheres de 17 países diferentes. A minha história de vida e proposta de superação começou a correr mundo, em língua espanhola.
As histórias contidas nesse livro e as preocupações comuns aumentaram a minha curiosidade e a minha vontade de saber mais e decidi participar numa formação, ao longo de aproximadamente quatro meses, promovida por Women 4 Solutions, onde eu e mais 66 mulheres aprendemos e falámos sobre o impacto da economia do cuidado, das empresas B, e de outros fatores que não são contabilizados para o PIB de um país, mas que tem um impacto gigantesco na sociedade. No final da formação fui convidada para ser membro da rede global de mentores e, nesse momento, percebi que tinha encontrado o meio para poder ajudar-me a mim e ajudar outras pessoas através da mentoria. Comecei a organizar e moderar vários fóruns de debate sobre as temáticas ligadas à igualdade de género onde para além de incluir os homens, também me preocupei em ouvir pessoas de várias idades na tentativa de encontrar a raiz das desigualdades e encontrar algumas propostas de atuação no que diz respeito à igualdade de género. Em outubro de 2022, no primeiro congresso global de Mentoring, em Buenos Aires, fui reconhecida por esse meu trabalho.
No entanto, nem tudo era fácil e percebi que ainda havia muito a curar dentro de mim, e que a melhor forma de o fazer poderia ser através da escrita. Escrevi “Eva entrega a Costela a Adão” que atualmente já tem a sua versão em espanhol “Eva le Devuelve la costilla a Adán”, um livro que me levou a olhar para as minhas feridas e para aquelas que constatei nas escolas e nos fóruns que organizei. É um livro apaixonante, que prende o leitor desde o primeiro momento e, o leva a identificar-se com as personagens, para além de perceber que muitas das vezes justificamos o abuso sexual na infância, o bullying nas escolas, ou a violência doméstica, como uma forma de amor.
Violência não é Amor! Foi com esse grito na minha cabeça que fundei a associação Amar Eva, da qual sou presidente. Falar de igualdade e não discriminação vai muito mais além decretar que somos todos iguais. Cada um de nós é único e especial e o foco deve ser na capacidade de cada um aceitar a diferença em si e nos outros e usá-la para criar um mundo mais harmonioso e feliz. Fui eleita, no início desde mês de dezembro, por voto popular, uma das melhores empreendedoras do mundo de 2023, e isso dá-me um novo impulso e uma responsabilidade maior para 2024.
Fernanda Ferreira
Mentora Social e Familiar, autora do livro Eva entrega a costela a Adão, fundadora e presidente da associação Amar Eva.