A Associação Nacional de Caprinicultores da Raça Serrana (ANCRAS) foi fundada em 1990 e é oficialmente reconhecida como Entidade Gestora do Livro Genealógico da Raça Caprina Serrana e Raça Caprina Preta de Montesinho. Com diversas campanhas de promoção e valorização das raças, coube a Arménio Vaz, presidente desta Associação, apresenta-nos estas raças tão distintas.
Qual o papel da ANCRAS e que tipo de apoios e valias oferece aos seus associados?
Essencialmente, apoio técnico às explorações integradas na gestão dos Livros Genealógicos (LG) da Cabra Serrana e Preta de Montesinho. Fazemos a inscrição dos animais no LG e a recolha e tratamento de todos os dados que permitirão o seu melhoramento genético. Em virtude da dispersão geográfica da Cabra Serrana, estabeleceram-se protocolos de delegação de competências com o Agrupamento De Defesa Sanitária Do Concelho Da Guarda (ACRIGUARDA), a Associação de Criadores De Caprinos e Ovinos Do Ribatejo Oeste (ACORO, em Santarém), a Associação dos Criadores e Reprodutores de Gado do Oeste (ACRO, em Lourinhã).
Além disso a ANCRAS intervém em várias vertentes: Promoção, através de publicações variadas, de concursos de animais de raça pura, leilão de bodes e exposições; Seleção e venda de reprodutores, pelos associados da Cabra Serrana e da Preta de Montesinho; Serviço de Aconselhamento Agrícola; Projetos de Investigação nacional e europeia; Elaboração de projetos de investimento agrícola (PRODER e outros); REAP – Licenciamento de Explorações; Formação Profissional; Candidaturas a subsídios agrícolas.
Através das cooperativas (LEICRAS E CAPRISSERRA) fornecemos: Serviço veterinário; Venda de rações e de todos os equipamentos necessários; Venda de: queijo de cabra transmontano DOP e queijo de cabra velho DOP; Requeijão e queijo fresco de cabra; ‘Cabrito transmontano DO; Recolha de cabritos nos associados cooperantes da Caprisserra e do leite aos da LEICRAS.
Que projetos têm realizado para a promoção e valorização da Cabra Serrana e da Preta de Montesinho e produtos provenientes destas raças DOP?
Temos tido a oportunidade de participar nos mais variados projetos com parceiros nacionais e europeus, que vão de escolas profissionais a universidades e institutos. Também tem sido importante o contributo das autarquias. Os projetos têm incidido, essencialmente, sobre a Cabra Serrana. No entanto, estamos a dar os primeiros passos para que a Cabra Preta venha também a beneficiar de uma DOP.
Como se caracteriza a Cabra Preta de Montesinho e que vantagens oferece aos produtores?
Conhecida na região como a ‘vaca leiteira dos pobres’, foi a última raça caprina a ser reconhecida em Portugal (2009) e a que tem o mais pequeno efetivo 1.500 fêmeas. É um animal de estatura mediana, de pelagem preta a castanha muito escura, com pelos curtos, lisos muitas vezes brilhantes. Produz um cabrito, que era uma especialidade gastronómica muito apreciada na região, onde era conhecido como Cabrito Branco de Montesinho devido às suas carnes claras. Além da qualidade dos seus produtos obtidos de uma forma extremamente benéfica em termos ambientais oferece, ainda, aos seus detentores a satisfação de contribuírem para salvar uma raça muito ameaçada.
Como se diferenciam os produtos oriundos da Cabra Preta Montesinho? Como têm vivido este período pandémico, houve um maior consumo dos produtos derivados das raças de Cabra Serrana e a Preta de Montesinho?
Por enquanto a comercialização dos produtos da Cabra Preta de Montesinho tem sido feita de uma forma indiferenciada. O nosso esforço tem ido mais para a preservação da raça, estimulando a venda de reprodutores, no entanto existem consumidores fiéis que lhe dão a sua preferência e onde se incluem chefs de reconhecido mérito.
A pandemia apanhou os produtores numa época (Páscoa) decisiva para as explorações por ser, tradicionalmente, de grande procura. É um produto de festa familiar e de consumo em restaurantes, mas com a restauração fechada e sem festas o susto foi total. Porém a solidariedade portuguesa realçou-se uma vez mais através de uma campanha promovida nos meios digitais em que os amigos dos produtos autóctones tiveram um grande papel amplificador. Com todas as dificuldades inerentes à situação, por exemplo, as restrições ao funcionamento dos matadouros, conseguiu-se atenuar a gravidade da situação que todos estamos a passar.
A ANCRAS tem uma aposta bastante marcada na parte científica através de vários projetos de investigação. Qual a importância desta aposta para a atividade e em particular para a ANCRAS?
Sem evolução não conseguiremos sobreviver. Precisamos de atrair novos produtores e para isso a modernização da forma de criar estes animais é indispensável, de forma a facilitar este modo de vida e tornando-a interessante para os mais jovens, mantendo a ligação com a natureza e o equilíbrio ambiental. Também do lado do consumo urge apresentar ao consumidor novos produtos adaptados às suas exigências, convenhamos que a venda de carcaças inteiras ou, na melhor das hipóteses, meias carcaças está algo ultrapassado, pois me parece que na pré-história já assim era.
Como se caracteriza a Cabra Serrana e que vantagens oferece aos produtores?
Por algum motivo é a maior raça de cabras do país distribuindo-se do Norte até ao rio Tejo, oferecendo a possibilidade de obter boas produções nas condições agrestes em que é explorada devido à sua excelente adaptação enquanto raça autóctone.
Como se diferenciam os produtos oriundos da Cabra Serrana?
Através de duas certificações o “Cabrito Transmontano DOP” e o “Queijo de Cabra Transmontano DOP” em que a forma de criar estes animais e o saber transformar contribuem de modo decisivo para um sabor que assenta na tradição.