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“A atividade portuária é muito apaixonante porque estamos ligados ao mundo

Paula Cabaço foi presidente do Instituto do Vinho, do Bordado e do Artesanato da Madeira, e posteriormente secretária regional do Turismo e Cultura. Recebeu o título de Personalidade do Ano do Vinho, em 2016. Tudo isto antes de abraçar a presidência do Conselho de Administração da APRAM, a empresa que gere os portos da Madeira, ilha que adotou há já muitos anos para viver.

Paula Cabaço é Presidente da Administração dos Portos da Região Autónoma da Madeira (APRAM) desde 2019. Um cargo assumido após um vasto percurso académico e profissional. O que tem em comum e o que diferencia este cargo dos que desempenhou anteriormente?

Há um denominador comum: a defesa da Madeira e do interesse público! Foi sempre o que me norteou nestes quase 30 anos de carreira profissional.

O turismo é um setor importantíssimo para todo o país, e sabemos bem a relevância que tem na Madeira. Depois de ter sido Secretária Regional do Turismo e Cultura, agora, na presidência da APRAM, continua a ter uma forte ligação a esta área, até pela importância que o turismo de cruzeiros tem para o arquipélago. Pode dar-nos alguns números que quantifiquem a sua importância para a economia madeirense?

Os cruzeiros têm um impacto na economia regional, avaliado em cerca de 55 milhões de euros, dados de antes da pandemia. É um valor muito importante que se reflete, nomeadamente, no comércio tradicional, na restauração e nos diversos serviços prestados, tais como as excursões em terra e no mar, para observação de cetáceos, por exemplo. Além disto, há uma parte emocional que é o envolvimento dos funchalenses com o porto e com os navios que aqui aportam, um laço que já tem séculos e que, em tempos, estava relacionado com a quebra do isolamento, representando uma ligação ao mundo.

Os Portos da Madeira registaram 323 escalas em 2022, conseguindo superar os valores pré-pandemia. O que significa, para si, este número?

Terminámos 2022 como o melhor dos últimos dez anos, a nível de escalas. Os nossos portos, Funchal e Porto Santo, registaram um total de 323 escalas, mais 25 dos que as verificadas, em 2019, antes da pandemia e que já tinha sido um ano muito bom para a indústria de cruzeiros. Superámos as escalas, mas não conseguimos chegar aos cerca de 600 mil passageiros que recebemos em 2019. Acabámos o ano de 2022, com 417 730 passageiros, a que se somaram 226 987 tripulantes – para nós, os tripulantes são importantes e excelentes clientes. Esta recuperação do mercado de cruzeiros está muito relacionada com todo o trabalho que foi desenvolvido durante a pandemia, entre as companhias e os portos, ao longo do qual todos nos preparámos para a retoma da atividade, na qual sempre acreditámos.

“Your safe port” é uma assinatura da marca Portos da Madeira que reflete o posicionamento da APRAM. Que valores pretendem transmitir com esta campanha e com a ideia de “porto seguro”?

Esta campanha foi feita em plena pandemia. A segurança sanitária tornou-se um fator crítico para quem queria viajar. Assim, o nosso objetivo com a criação da nova assinatura foi refletir todo o investimento e as medidas que tínhamos implementado nos portos da RAM, de forma a garantir que eram portas de entrada seguras. Desta forma, pretendemos dar confiança ao mercado. Ao mesmo tempo, foi também uma mensagem de confiança para a nossa população, expressando que estávamos preparados para a vinda dos cruzeiros, em segurança, para os visitantes e visitados. Por outro lado, esta assinatura reflete também o conceito de “porto seguro”, em termos afetivos, associado ao “saber receber” que tão bem caracteriza os madeirenses.

A APRAM gere quatro infraestruturas – os portos do Funchal e do Caniçal, na ilha da Madeira, e ainda o porto e a marina do Porto Santo. Qual é o papel de cada um destes ativos para o setor portuário da Madeira?

O ano de 2005 foi um ano marcante, em termos de reordenamento das atividades portuárias na Região Autónoma da Madeira. A partir desse ano, o Porto do Funchal passou a ser porto iminentemente turístico, destinado aos navios de cruzeiro, à linha regular inter-ilhas e também aos mega-iates, uma vertente de negócio que tem aumentado nos últimos anos. Esta especialização do Porto do Funchal trouxe vários benefícios. Por um lado, o podermos acolher mais navios de cruzeiro, de forma segura e cómoda para os visitantes. Depois, a libertação de tráfego do centro do Funchal, que era gerado pelos camiões de mercadorias.

Repare, no Porto do Funchal a experiência turística começa logo com a chegada do navio de cruzeiros à bacia portuária, tendo como cenário, o magnifico anfiteatro que caracteriza a cidade. Por outro lado, quando os passageiros desembarcam do navio estão praticamente dentro da cidade, que podem inclusive percorrer a pé. A carga foi deslocalizada para o Porto do Caniçal, sendo neste momento, o porto comercial da Madeira. Iniciou esta função especifica também em 2005. No caso do Porto Santo, temos um porto misto, com um Plano Diretor elaborado, em 2002, que delimitou áreas funcionais do porto e definiu os princípios e regras de ocupação e uso da área portuária.

O que significa, para si, ser Presidente dos Portos da Madeira? Sente-se a “ligar mundos” e a “unir pessoas”, aproveitando o vosso mote?

A Atividade portuária é uma atividade extremamente desafiante. É muito dinâmica, operacional, envolve conhecimentos técnicos especializados nas mais diversas áreas. Agora, é uma atividade muito apaixonante, precisamente, porque “estamos ligados ao mundo”. Historicamente foi isso que a Madeira representou, desde o povoamento. Durante séculos, a ilha era ponto obrigatório de paragem das embarcações de várias origens para abastecimento e repouso. A baixa do Funchal era uma panóplia de gentes, de línguas e culturas que confluíam com os residentes. Ferreira de Castro representa bem isto ao escrever sobre um local preciso desta cidade, chamando-lhe “a esquina do mundo”, exatamente devido a essa tal confluência que uniu gentes e mundos.

A APRAM está envolvida em diversos projetos de gestão ambiental, no âmbito da União Europeia. Pode destacar-nos algum?

Neste momento, estamos a desenvolver esforços para realizar uma série de estudos de viabilidade técnica e financeira de forma a implementar sistemas de abastecimento de energia elétrica aos navios, quando estes estiverem acostados nos três portos da Madeira, reduzindo o ruido, as vibrações e emissões de co2. Trata-se de um investimento de mais de um milhão de euros, com comparticipação europeia, que vai dar-nos o diagnóstico e apontar-nos os caminhos a seguir. Pretendemos ainda avaliar a viabilidade de abastecer os navios com combustíveis alternativos ou não fósseis, bem como saber o impacto ambiental, relativamente às soluções a serem apresentadas. Nesta nossa edição, a primeira de 2023, destacamos a Madeira e, sobretudo, as mulheres gestoras e empresárias na Madeira.

Assim, aproveito para lhe perguntar, se nos pode revelar as suas expectativas para este ano e se quer deixar alguma mensagem às empreendedoras da Região Autónoma?

As mulheres já provaram o seu valor, há um reconhecimento generalizado do contributo das mulheres no desenvolvimento de novos caminhos e competências essenciais no mundo empresarial, tirando partido de características que têm a ver com o mundo feminino. Esse reconhecimento já existe, têm é de ir em frente e acreditarem em si!