Com vinte anos de experiência clínica e académica, Carina Pinto iniciou o The Word Lab, um centro dedicado à Terapia da Fala, com um objetivo claro: colocar a comunicação no centro da saúde e da inclusão. Distanciando-se das abordagens tradicionais, o projeto aposta num modelo de intervenção personalizado, voltado para a família e para os contextos do dia a dia, dentro e fora do consultório.
O The Word Lab é um centro dedicado à Terapia da Fala e ao estudo da comunicação e linguagem. Com duas décadas de experiência na Terapia da Fala, qual foi o principal objetivo por detrás da fundação deste projeto e de que forma pretende que se diferencie das abordagens tradicionais?
Sou terapeuta da fala há 20 anos, com experiência em contextos clínicos e escolares. Há quase 15 anos que leciono no Ensino Superior. O The Word Lab nasceu da vontade de criar um projeto que integrasse todas as minhas dimensões profissionais
- clínica, científica e formativa
- mas também pessoais, como mãe e cidadã comprometida com a comunidade. O The Word Lab diferencia-se das abordagens tradicionais por integrar ciência e prática de forma inovadora, com um modelo de intervenção centrado na família e nos contextos naturais de cada pessoa. ‘Mais do que intervir em gabinete – estamos no Prontos Impact Village nas Caldas da Rainha – trabalhamos em escolas, domicílios, online e em plataformas digitais, promovendo também a formação e literacia em saúde.
Considera que o The World Lab conquista resultados mais rápidos e duradouros? Poderia abordar, um pouco, a metodologia que é utilizada?
Sim, a minha experiência e as evidências científicas confirmam que é possível alcançar resultados mais rápidos e, acima de tudo, mais duradouros quando a intervenção é pensada de forma integrada. A nossa metodologia baseia-se em fundamentos da neurociência, psicolinguística, ciência cognitiva, neurolinguística e linguística clínica, sempre articulados com práticas atualizadas em Terapia da Fala.

A clínica cobre um leque muito abrangente de áreas de intervenção, desde a amamentação até às dificuldades da comunicação no envelhecimento. Como é feita a adaptação dos métodos terapêuticos às diferentes faixas etárias e necessidades?
O primeiro segredo é a nossa equipa. Somos atualmente quatro terapeutas da fala no The Word Lab, e cada uma de nós tem uma área de especialização. Quando alguém nos procura, fazemos logo uma escuta atenta da situação para encaminhar diretamente para a terapeuta mais adequada. Acreditamos que o sucesso começa aí: na personalização desde o primeiro contacto. Adaptamos a nossa intervenção a cada fase da vida.
Inegavelmente, a componente científica ocupa um papel central no seu trabalho. Acredita que os projetos de investigação em que está envolvida, como o MorphoPlay ou o programa de estimulação linguística, contribuem para a prática clínica no The Word Lab?
Sem dúvida. A ciência e a investigação são a espinha dorsal de tudo o que fazemos no The Word Lab. Um dos projetos de que mais me orgulho é o MorphoPlay, um jogo para Android que avalia competências morfológicas em crianças em idade escolar. Este projeto surgiu de uma candidatura vencedora à Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Foi distinguido com um prémio nacional — o Spotlight Awards — graças ao excelente trabalho técnico dos estudantes da licenciatura de Jogos e Multimédia do IPLeiria.

A participação em projetos académicos, com estudantes, é outro dos aspetos que têm marcado o seu percurso profissional. Qual é a relevância da ligação entre a investigação e a prática para o avanço da Terapia da Fala em Portugal?
Para mim, essa ligação é absolutamente essencial. A prática sem ciência é muitas vezes aleatória, e a ciência sem aplicação corre o risco de não responder às necessidades reais das pessoas. Sempre acreditei que a Terapia da Fala só ganha força quando une estes dois mundos — e é por isso que, desde o início, faço questão de trabalhar lado a lado com estudantes, investigadores e docentes, mas também com as famílias e com a comunidade. Tenho tido o privilégio de trabalhar com colegas extraordinários e com estudantes empenhados, que são verdadeiramente peças- chave na construção de um futuro mais sólido para a nossa área.
A ligação à comunidade é descrita como um pilar do projeto. O The Word Lab procura ultrapassar as fronteiras do consultório e envolver ativamente a população? Existem iniciativas em curso que gostaria de destacar?
Sem dúvida. Formamos educadores, professores e terapeutas da fala e outros profissionais de saúde através dos nossos webinares online mensais gratuitos. A partir de junho iremos também disponibilizar formação certificada para profissionais de saúde e educação, também online. Temos ainda, a iniciar também em junho, as nossas ‘Oficinas parentais de Comunicação e Linguagem’, uma resposta inovadora que visa capacitar pais, mães e cuidadores com conhecimentos e estratégias práticas para apoiar o percurso comunicativo e linguístico dos seus filhos — desde o nascimento até ao final do 1.º ciclo – que será feita também online, para pais de todo o país.

Por outro lado, a clínica promove mensalmente webinars gratuitos e mantém presença ativa nas redes sociais. Que impacto tem sido sentido nas ações de sensibilização e na recetividade por parte das pessoas?
Temos sentido um impacto muito positivo. Os nossos webinars mensais gratuitos abertos a toda a comunidade, já contam com dezenas de participantes (o último teve mais de 70 inscritos!). A nossa presença nas redes sociais, especialmente no Instagram (@talktothewordlab), tem sido uma forma de estarmos mais próximos das pessoas, de partilhar conhecimento acessível, com base científica, mas sem complicações.
Numa era em que se fala, cada vez mais, da importância da saúde mental e do bem-estar ao longo da vida, a comunicação ganha particular destaque. Na sua perspetiva, que papel a Terapia da Fala pode desempenhar na promoção de uma sociedade mais inclusiva e saudável?
Sou suspeita, claro, mas acredito profundamente que a comunicação é fulcral. Quando alguém está privado de comunicar, isso não afeta apenas a sua fala ou linguagem: afeta o seu acesso à educação, à saúde, ao trabalho, à participação na sociedade. E isso é profundamente limitador. A Terapia da Fala tem um papel essencial na construção de uma sociedade mais inclusiva e saudável. Ao promover a comunicação, estamos a garantir voz, dignidade e pertença. E isso começa cedo — com a prevenção, a intervenção precoce e a literacia em saúde— muito antes de a patologia se instalar.

Existe alguma mensagem que gostaria de deixar a pessoas que procurem o The World Lab?
Acima de tudo, gostaria de deixar uma mensagem de confiança e proximidade, não só no The Word Lab, mas em todos os Terapeutas da Fala deste país. Acredito profundamente no papel transformador da nossa profissão, mas sei que muitas pessoas ainda desconhecem o verdadeiro alcance da Terapia da Fala. Se existir qualquer dúvida procurem um Terapeuta da Fala. Um esclarecimento atempado pode fazer toda a diferença.