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Ferragudo na direção do futuro, sem esquecer o passado

Ferragudo tem ainda sentido de descoberta para quem visita a vila pela primeira vez. Tem o rio Arade logo ali, o oceano Atlântico acolá e Portimão do outro lado, tem as artes da pesca pousadas no passeio e vistas deslumbrantes para conhecer. Luís Veríssimo, presidente da freguesia, falou um pouco desta vila piscatória que tem tanto para se descobrir.

Nesta edição falamos dos caminhos de Portugal e da História que marca os mesmos. Qual a história inerente à freguesia, que celebra este ano os seus 500 anos?

Importa lembrar que se trata de uma povoação piscatória muito antiga, havendo indícios da sua existência como região povoada, desde o reinado de D. Afonso III, nomeadamente desde a atribuição do Foral a Silves (1266). No entanto o texto sobre a fundação da povoação de Ferragudo é datado de 1520.

Uma vez a povoação instituída concretamente em 1520, pela Rainha D. Leonor, sabemos que a mesma ficou anexada à freguesia de Estômbar até 1749, ano em que a freguesia de Ferragudo se tornou independente. A elevação à categoria de vila acontece em 1999, durante a VIII legislatura por proposta do Deputado Luís António do Rosário Veríssimo.

Luís Veríssimo, presidente da Junta de Freguesia de Ferragudo

Afirmam ser uma vila com Futuro. Que projetos estão a ser pensado para esse mesmo futuro?

O futuro começa hoje a ser construído, sem esquecer o passado. O Homem, ao longo dos séculos, juntou-lhe casas brancas onde se destacam as chaminés e platibandas rendilhadas (que com a voragem do desenvolvimento vão desaparecendo), erguidas nas encostas das colinas.

Estas são características que nos garantem um bom futuro se formos capazes de as preservar. Hoje o turismo é a indústria do futuro, e o que pretendemos para Ferragudo é um turismo de qualidade e não um turismo de ‘massas’. A importância de Ferragudo no futuro está seguramente garantida pela qualidade da natureza que nos envolve e não pela quantidade dos que nos procuram.

É evidente que hoje nem a indústria conserveira nem a pesca artesanal são a base de sustentação de economia local de Ferragudo. A exemplo do que aconteceu a partir dos anos 60, todas estas atividades foram ‘absorvidas’ pelo desenvolvimento turístico da região e Ferragudo também foi atingido por esse ‘surto’.

Com o turismo no horizonte é necessário criar condições para melhorar os serviços prestados aos turistas, mas também, e principalmente, aos Ferragudenses, que são a base e os destinatários do trabalho desenvolvido pela Junta de Freguesia e pela Câmara Municipal.

Vai avançar brevemente um equipamento designado por Silo de Estacionamento,dotado de outras valências, como por exemplo, sanitários públicos, praça de táxis, paragem de autocarros, com zona de espera, no cimo de um fantástico miradouro, que nos permite olhar e ‘atravessar’ Ferragudo, apoiado por um quiosque. Este projeto irá valorizar e requalificar a baixa de Ferragudo, onde serão valorizados as pessoas e o ambiente em detrimento dos automóveis. Além disso há todo um trabalho de manutenção e requalificação a fazer no ‘casco urbano’, de forma a garantir e manter o tipicismo do ‘casario’ e das vielas labirínticas, em que as calçadas reforçam a identidade da região.

Não podemos esquecer que sem um forte investimento na criação da habitação, brevemente, Ferragudo será habitado sem que qualquer residente seja natural de Ferragudo. Atualmente, é por demais evidente, basta analisar os últimos recenseamentos eleitorais que cada vez temos menos recenseados, contrariamente a isso temos mais residentes.

É preciso que todos os responsáveis pelo desenvolvimento de Ferragudo que tenham presente esse fenómeno. A especulação imobiliária provoca a ‘fuga’ das nossas gentes, sobretudo dos jovens, porque não conseguem acompanhar a subida dos custos de habitação. Tenho medo e receio que no futuro, Ferragudo não tenha descendentes dos Ferragudenses que durante 500 anos construíram a história da nossa Terra.

Aquando de uma visita dos nossos leitores a Ferragudo, que pontos de visita não podem falhar no roteiro?

A história de Ferragudo confunde-se, um pouco, com a própria história do Forte de S. João, as antigas Torres de vigia e a própria Igreja em homenagem à nossa Senhora da Conceição, padroeira daqueles que partiam para a faina piscatória, incluindo a longínqua pesca do bacalhau. O principal ex-líbris de Ferragudo é, sem dúvida, o conjunto de magnificas praias, que se estendem por toda a freguesia.

As falésias rendilhadas, que contornam o rio Arade e o Oceano Atlântico são locais magníficos de contemplação, de passeio, dotadas de troços de passadiço que permitem em segurança apreciar as belezas da nossa costa, onde a Torre da Lapa se assume como elemento marcante.

Castelo São Jorge do Arade, Ferragudo

A questão Covid-19 abalou, com certeza, a população. Que forma tem a Freguesia auxiliado a mesma? Que medidas foram implementadas?

O Covid-19 abalou não só a população de Ferragudo, mas o mundo inteiro. O que pode fazer uma Junta de Freguesia com a nossa dimensão, perante uma pandemia planetária, que fragilizou as superpotências mundiais? 

Com as limitações inerentes à nossa dimensão optamos, de forma a não proporcionar ajuntamentos, pela não realização da animação musical e com a verba determinada a essas iniciativas adquirimos material de proteção e auxílio, entre outros equipamentos que foram entregues aos lares de idosos. Foram também adquiridos equipamentos portáteis destinados aos alunos mais carenciados para o acompanhamento do ensino à distância.

Foi criada por um grupo de voluntários uma organização designada “Ajuda a Ajudar”, de forma a chegarmos aos mais carenciados e contribuir, desta forma, para minimizar os efeitos desta pandemia.

Como encontraremos Ferragudo no futuro?

Para mim é difícil responder a essa pergunta, porque eu tenho mais passado que futuro. Mas quero acreditar que Ferragudo no futuro manterá todas as suas características naturais, que fazem desta vila umas das mais populares e fotografadas do Algarve, e que as próximas gerações saibam respeitar a memória e o trabalho desenvolvido pelos Ferragudenses ao longo destes 500 anos, e que em nome de todos consigam desenvolver Ferragudo na direção do futuro sem esquecer o passado, porque o passado é a história das nossas vidas, e Ferragudo tem e terá história e terá vida no futuro. que se pretende que seja uma terra hospitaleira que receba bem, mas que não esqueça os seus filhos.

Photo by Simon Moore on Unsplash