Ambiente

POLUIÇÃO ZERO: ÁGUAS BALNEARES INTERIORES AINDA LONGE DESTE OBJETIVO.

Até 2050, a poluição ambiental deverá ser reduzida para níveis que não comprometam a saúde humana e a saúde dos ecossistemas. Este é o principal e ambicioso objetivo do Plano de Ação para a Poluição Zero que a Comissão Europeia adotou em maio de 2021.

Hoje, a luta contra a poluição é vista como uma urgência, seja por questões ambientais ou de saúde pública, no entanto, quando falamos em Poluição Zero é natural que nos questionemos se a fasquia não estará a ser colocada demasiado alta e se não estaremos perante um objetivo pouco realista. Considerando que, anualmente, a poluição é responsável por nove milhões de mortes prematuras, em todo o mundo, e uma das principais causas da perda de biodiversidade e da redução da capacidade dos ecossistemas para prestarem serviços indispensáveis à vida, rapidamente compreendemos a urgência da mudança e de uma visão de poluição zero.

Os dados mais recentes divulgados pela União Europeia, referentes a 2021, indicam que a qualidade das águas balneares europeias é elevada, com cerca de 85% a apresentar excelente qualidade. Portugal
não é exceção no que respeita à excelência na qualidade das suas águas balneares aparecendo em décimo lugar numa lista de 30 países (União Europeia, Albânia e Suíça), com uma percentagem de águas balneares de qualidade excelente superior a países como Espanha, França ou Itália.

Ainda assim, na lista de Praias ZERO Poluição, recentemente divulgada pela Associação ZERO, figuram apenas 58 das 643 águas balneares portuguesas, onde apenas uma corresponde a uma praia interior, ou
seja, foi a única praia interior a cumprir o requisito de não apresentar qualquer indício de contaminação microbiológica nas últimas três épocas balneares, o que é revelador dos problemas que afetam a qualidade da água na generalidade dos rios portugueses.

Após décadas de investimentos em redes de saneamento e em infraestruturas de tratamento de águas residuais, apesar das melhorias significativas na qualidade das nossas águas, os níveis excessivos de
poluentes nos rios portugueses continuam a existir e a ser agravados pelos efeitos das alterações climáticas, afastando-nos daqueles que são os objetivos de qualidade estabelecidos a nível europeu. Identificar as causas e implementar medidas adequadas para prevenir, reduzir ou eliminar essas
causas são essenciais para acelerarmos a redução da poluição e caminharmos para o tão necessário objetivo de poluição zero.

Sara Correia, Gestora de Projetos e Analista de Políticas Públicas