Sónia Melo, chef autodidata e apaixonada pela gastronomia açoriana, tem visto o reconhecimento do Prémio Cinco Estrelas Regiões influenciar positivamente o seu trabalho. Um galardão que lhe trouxe uma visibilidade acrescida e novas oportunidades de crescimento. Agora, entre a fusão de sabores tradicionais e contemporâneos e o compromisso com a autenticidade dos ingredientes locais, a Private Chef continua a elevar a gastronomia dos Açores enquanto reforça a sua marca e partilha com o mundo o que de melhor a região tem para oferecer.
Sónia, como é que tem sentido o efeito do Prémio Cinco Estrelas Regiões no seu trabalho? Sente que este reconhecimento lhe abriu novas portas?
O reconhecimento com o Prémio Cinco Estrelas Regiões teve um impacto muito positivo no meu trabalho. Além de ser uma validação importante do esforço e dedicação que coloco diariamente, tem-me dado uma visibilidade acrescida, permitindo que mais pessoas conheçam o meu trabalho. Este prémio também reforça a confiança dos meus clientes e parceiros, o que resulta em novas oportunidades de crescimento e colaboração. É, sem dúvida, um impulso motivacional para continuar a elevar os padrões de qualidade e inovação no que faço.
Desde a nossa última entrevista, na primavera, tem incluído novidades no seu serviço, ou mantém-se fiel à fórmula que tão bons resultados lhe tem trazido?
Tenho procurado um equilíbrio entre manter a essência do serviço que tem trazido tão bons resultados e a introdução de algumas novidades. Continuo fiel à fórmula de qualidade, proximidade e atenção personalizada que os clientes já reconhecem, mas estou sempre atenta às tendências e às necessidades do mercado. A inovação é essencial, mas sem perder a identidade que me trouxe até aqui.
Para quem ainda não conheça o seu trabalho, como podemos definir o conceito do Chez Sónia, e os sabores da sua culinária?
Posso dizer que o Chez Sónia é uma experiência gastronómica pensada para envolver todos os sentidos. O conceito baseia-se numa cozinha de inspiração tradicional, mas com um toque contemporâneo, onde valorizo ingredientes frescos, de origem local, e a combinação de sabores autênticos e reconfortantes. Cada prato é preparado com a atenção ao detalhe, tanto na apresentação como no sabor, refletindo uma paixão pela culinária que vai além do simples ato de cozinhar. No Chez Sónia, os sabores são pensados para contar histórias e proporcionar momentos únicos, onde o conforto e a inovação se encontram à mesa.
Qual a importância de trabalhar a partir de um arquipélago (Açores) reconhecido precisamente por produzir produtos e ingredientes tão genuínos e de enorme qualidade?
Trabalhar a partir dos Açores é um privilégio e uma grande responsabilidade. A riqueza dos produtos locais oferece uma qualidade inigualável que valoriza cada prato que preparo. Utilizar ingredientes genuínos, de produção sustentável e local, não só enaltece o sabor autêntico das receitas como também reforça o compromisso com a comunidade e com o meio ambiente. É uma honra poder partilhar essa riqueza com quem nos visita.
Tem alguma parceria com produtores locais para promover a gastronomia açoriana?
Embora atualmente não tenha parcerias formais com produtores locais, o meu envolvimento como Confrade da Confraria dos Gastrónomos dos Açores acrescenta uma responsabilidade extra no que toca à promoção da gastronomia açoriana. Ser parte desta confraria significa estar empenhada em preservar e divulgar os sabores autênticos da nossa região, enquanto elevo a qualidade e a tradição dos produtos locais. Tento sempre manter um diálogo próximo com os produtores, escolhendo ingredientes que reflitam a genuinidade e excelência dos Açores, garantindo que a minha cozinha homenageie essa herança rica.
Quais são os maiores desafios com que se depara a nível logístico?
Diria a gestão da disponibilidade e do transporte dos ingredientes. Embora os produtos locais sejam de altíssima qualidade, a variedade pode ser limitada dependendo da época do ano, das condições meteorológicas e das condições de transporte entre as ilhas. É necessário um planeamento muito cuidadoso para garantir que tudo chegue no tempo certo e em perfeitas condições, sem comprometer a frescura. Além disso, o facto de se tratar de um serviço personalizado implica uma grande atenção aos detalhes, desde a preparação e montagem do espaço até à criação de uma experiência única e adaptada ao cliente. Cada evento é único, e isso exige flexibilidade, organização e uma grande capacidade de adaptação aos novos lugares.
Podemos dizer que a sazonalidade de alguns produtos coloca à prova a sua capacidade de reinvenção?
Definitivamente! A cada estação, os ingredientes disponíveis mudam, e isso desafia-me a ser criativa, a adaptar as receitas e a explorar novas combinações de sabores. Para mim, esta limitação é, na verdade, uma oportunidade de inovar e de valorizar ainda mais a frescura e autenticidade dos produtos da época. A sazonalidade também traz uma certa magia, porque permite que cada experiência gastronómica seja única e alinhada com o momento do ano, o que enriquece tanto o processo criativo como o resultado.
Imagino que o seu trabalho a coloque em contacto com uma imensa variedade de pessoas. Há alguma experiência em particular que queira e possa partilhar connosco?
Sem dúvida, uma das maiores riquezas do meu trabalho é o contacto com pessoas de diferentes origens e histórias. Não existe nenhuma em particular. Todas elas são únicas e verdadeiramente inspiradoras. Ver a emoção nos rostos dos meus clientes ao longo do jantar é uma lembrança poderosa de como a comida pode ser um veículo para criar memórias e celebrar a vida. Estas experiência reforça o meu amor por este trabalho, onde cada refeição tem o potencial de contar uma história e criar laços.
Como podemos caraterizar os clientes habituais do Chez Sónia?
Os nossos clientes habituais são, na sua maioria, turistas estrangeiros, geralmente já familiarizados com o conceito de private chef. Procuram uma experiência gastronómica personalizada e íntima, algo que vá além do tradicional jantar num restaurante. Eles valorizam a autenticidade dos ingredientes locais e a oportunidade de experimentar sabores açorianos num ambiente mais exclusivo. São pessoas curiosas, bem-dispostas, que gostam de aprender sobre a cultura e a gastronomia da região, e apreciam a atenção aos detalhes e a personalização que um serviço como o nosso oferece.
Desde que iniciou este trabalho de Private Chef, há algo que tenha aprendido neste seu percurso que tenha influenciado alguma alteração na sua estratégia de negócio?
Desde que iniciei o trabalho como private chef, aprendi várias lições valiosas que impactaram a minha estratégia de negócio. Uma das maiores aprendizagens foi a importância de adaptar a experiência gastronómica às expectativas e preferências individuais de cada cliente. Este entendimento levou-me a focar ainda mais na personalização do serviço, desde o planeamento dos menus até à execução dos eventos. Além disso, percebi a importância de uma comunicação clara e constante com os clientes para garantir que todas as suas expectativas sejam atendidas. Essas aprendizagens ajudaram-me a aprimorar o meu serviço, a manter a qualidade e a criar experiências ainda mais memoráveis. A flexibilidade e a capacidade de adaptação tornaram-se fundamentais para o sucesso e a satisfação contínua dos clientes.
Como é que olha para o futuro da gastronomia açoriana e da região enquanto destino turístico?
Olho com algum otimismo. Os Açores têm um potencial imenso para se destacar ainda mais no cenário gastronómico global, graças à qualidade excecional dos seus produtos e à riqueza das suas tradições culinárias. Acredito que há uma crescente valorização da nossa cozinha local, com mais chefs e produtores a explorar e a promover a autenticidade e a sustentabilidade dos ingredientes regionais. Mas muito há ainda para melhorar. Os Açores estão a tornar-se um destino cada vez mais procurado, não só pela beleza natural, mas também pela experiência gastronómica única que oferecem. À medida que o turismo cresce, vejo uma oportunidade para continuar a promover e a elevar a nossa gastronomia, integrando-a ainda mais nas ofertas turísticas. Isso pode incluir a criação de experiências gastronómicas imersivas que combinem a culinária local com a cultura e a paisagem. Acredito que, com inovação e preservação das tradições, os Açores poderão consolidar-se como um destino de referência tanto para os amantes da boa comida quanto para os turistas em busca de uma experiência autêntica.
Sei que continua cheia de trabalho, e com a agenda cheia, o que é ótimo. Há alguma mensagem final que queria deixar aos nossos leitores e aos seus clientes e admiradores?
Quero expressar o meu sincero agradecimento a todos os leitores, clientes e admiradores pelo apoio contínuo e pelo entusiasmo com o meu trabalho. É uma grande alegria poder partilhar com todos, a paixão pela gastronomia e a riqueza da nossa gastronomia. Cada experiência, cada prato, e cada história que tenho o privilégio de criar é feita com muito carinho e dedicação. Espero continuar a surpreender e a encantar-vos com novas experiências gastronómicas e a celebrar, juntos, (porque só assim faz sentido), todos os sucessos alcançados e o que de melhor a nossa região tem para oferecer. Agradeço-vos de coração e mal posso esperar para vos receber na minha/vossa casa para mais momentos especiais.