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Lar Juvenil dos Carvalhos: 36 Anos a acolher e dar nova luz a jovens em risco

Assim que se chega ao Lar Juvenil dos Carvalhos percebe-se a organização e boa gestão que existe neste espaço. Jardins bem cuidados, instalações de excelente qualidade e tudo impecavelmente limpo e tratado. Fomos recebidos pelo Diretor Pedagógico, que nos fez uma visita guiada a toda a envolvente da instituição. Ficámos rapidamente a perceber que o Padre Marçal Pereira é o rosto e a alma do Lar, onde gerações de jovens recuperaram o seu direito a ser felizes.

“é uma abordagem positiva e criativa aos problemas e dificuldades que surgem na vida… na busca honesta e no diálogo, com sabedoria e entusiasmo” (Papa Francisco aos Claretianos)

Padre Marçal Pereira, em que consiste o acolhimento residencial que proporcionam aqui no Lar Juvenil dos Carvalhos?

O acolhimento residencial é uma medida de proteção destinada a todas as crianças e jovens que não podem permanecer em suas casas e através do qual se lhes proporciona um lugar de residência e convívio que corresponda à incumbência de uma adequada satisfação das necessidades de proteção, educação e desenvolvimento, incluindo as ações terapêuticas e de reabilitação consideradas necessárias.

Pode descrever-nos as valências deste espaço onde nos encontramos? Em que contexto surge aqui a Fundação Claret?

A Fundação Claret é o suporte jurídico do Lar Juvenil dos Carvalhos, que oferece aos jovens aqui acolhidos um edifício construído de raiz no ano de 2003. Cada grupo de jovens (idade ou ano escolar) vive a sua vida num espaço constituído por cinco quartos, sala de estar (convívio e televisão), gabinete técnico, sala de atividades, espaço de higiene e sala de jantar. Os quartos estão equipados com mesa de estudo e armário de arrumos. O edifício é uma bela peça de Arquitetura, sóbria e elegante, num espaço verdejante e juncado de árvores, arbustos e outras construções. A localização é de tal relevância, que oferece aos jovens a deslocação rápida para as diversas escolas e outras respostas. Proporciona proximidade de grupos desportivos, onde os jovens podem ser inseridos, assim como a participação em atividades em ginásios ou acompanhamento em centros de estudos. O Lar Juvenil oferece ainda aos jovens, nos seus espaços, campo de futebol, campo de voleibol, escola de música, casa do taco (bilhar snooker e ping-pong), karaté e treino cognitivo de futebol. As diversas aprendizagens são motivo de desenvolvimento das capacidades dos jovens, onde podem aprender a confecionar as suas refeições, tratamento de roupas, passar a ferro, limpeza dos espaços de habitação e participar nas atividades nos jardins…

É notório, para qualquer pessoa que entre neste espaço, todo o trabalho aqui desenvolvido. Qual é a sua visão para o Lar, enquanto Diretor Pedagógico?

A experiência da vida influenciou-me na visão das Instituições de solidariedade social e sempre promovi a elevação e dignidade dos espaços onde são acolhidos os jovens que carecem de apoio e ajuda. Quando iniciei neste campo a minha dedicação, sentia, através dos meios de comunicação social, que as Instituições quanto mais sujas e degradadas, eram o enlevo dos meios de comunicação social. Pugnei pela dignidade desta casa e muitos jovens que por aqui passaram são o grande sinal de vidas recuperadas. O lar Juvenil é um espaço para estabelecer uma relação educativa. A qualidade dos técnicos, a dinâmica dos elementos da ação educativa, a dedicação voluntária da equipa da Direção e outras artes que assumem as tarefas educativas, determinam com eficácia os programas de acolhimento residencial.

Para fazer face a todos estes desafios necessitam, seguramente, de uma equipa especializada?

Sim, claro, a equipa educativa conta com Psicólogos, Assistentes Sociais, Educador Social, Conselho Pedagógico e outros técnicos de entidades externas. Contamos com um elemento (Psicólogo) na Supervisão externa que permite estimular as potencialidades, analisar as dificuldades, ajudar na promoção e gestão de mudanças orientadas à melhoria da qualidade de intervenção, promovendo uma intervenção sistémica. O Acolhimento residencial deve tornar-se uma intervenção capaz de responder às necessidades do jovem, da maneira mais rápida e efetiva. Quando o jovem passa por famílias de adoção e rapidamente é entregue numa instituição em acolhimento, com dramas da família, com dramas da família de adoção e com dramas da instituição residencial… as famílias de acolhimento e de adoção devem ser bem informadas, preparadas para as situações do jovem a acolher, que muitas vezes estão descomandados. As experiências são de difícil leitura e acompanhamento. As teorias são políticas, enquanto a realidade humana é vida a viver… Situações de jovens com psicoses (perdendo o domínio e controlo) e neuroses (ansiedade, medo, etc.) que necessitam de terapias e acompanhamento individualizado.

Falando ainda dos recursos humanos, recebem também estagiários nas áreas de Psicologia e Serviço Social?

Sim, num âmbito maior e mais científico, acolhemos alunos universitários de diversas faculdades para a realização dos estágios para conclusão dos diversos cursos, nas áreas da Psicologia, Serviço Social e Educação Social, que partilham os conhecimentos e enriquecem os seus currículos.

Como já referiu, estes jovens vêm de contextos muito difíceis. Sente que esta é a última oportunidade de encontrar um rumo para muitos deles, quando aqui chegam?

Nos casos relacionados com o contexto familiar, as equipas técnicas acompanham a par e passo todas as situações “melindrosas”, talvez de um acolhimento feito sem a sua devida preparação; as situações são deixadas por muito tempo ao desleixo e o tempo não perdoa e mata muitas vidas com direito a ser felizes, pelo facto de mentalidades que não evoluíram no conhecimento do acolhimento residencial. Quando tudo está perdido, pela droga, roubo, violência familiar, rejeição social, abandono escola, com problemas que teimam em subsistir, então é que se bate à porta das instituições. Um milagre convida-nos a imaginar vidas sem problemas, a concentrar-se no futuro, tal como deseja o nosso coração, a fazer valer a vida.

E estamos a falar de um trabalho contínuo, que terá também as suas frustrações, porque não se mudam vidas de um dia para o outro.

Os resultados de um acolhimento não são imediatos, de facto, porque o jovem não é preparado para viver em grupo e o grupo que encontra padece das mesmas situações, contudo com acompanhamento modificador, podem eliminar atitudes e violência. Muitos dos jovens que passaram pelo Lar Juvenil dos Carvalhos, estão hoje marcados pelos valores que os aconchegam a servir e viver na sociedade. Educar para os valores é uma forma de garantir o sucesso para a vida.

São já muitos anos à frente desta instituição. Em jeito de conclusão o que lhe parece mais importante transmitir aos nossos leitores?

O superior interesse da criança e do jovem, é um grito de todos os tempos e não pode ser um grito duma sociedade hipócrita; famílias desajustadas, adoções mal concertadas, acolhimentos não preparados e amadurecidos. O acolhimento deve ter um tempo razoável para produzir fruto para o equilíbrio da vida.

As atividades, as equipas, os apoios culturais, desportivos, a direção, as escolas, a saúde… vão proclamar o Belo da Vida e do acolhimento residencial.

Artistas destes 36 anos de orientação do Lar Juvenil dos Carvalhos, herdeiros de uma experiência vivida e envolvidos nas dificuldades de hoje, para defender o respeito pela vida, na dedicação ao serviço da dignidade dos jovens e da família. Os ritmos implementados para que cada educador seja desafiado para uma dinâmica que provoque encanto no desempenho das suas funções e brilhe nos olhos de todos o sucesso dos nossos jovens. Renascer na profundidade da verdade de cada pessoa.

A vontade é a grande força que valoriza o homem, forjada na frágua de Claret para aquecer o mundo.

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