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Editorial | Edição 36 | abril 2023

A inteligência artificial (IA) continua na ordem do dia e a merecer muitos comentários. Uns dizem que é inevitável, como tantas outras tecnologias, e acolhem-na de braços abertos. Outros alertam para os seus perigos, questões éticas e até legais em causa. Ainda este mês foi notícia o anúncio da recusa de um fotógrafo em receber um prémio porque admitiu que a sua fotografia tinha sido criada por inteligência artificial. Segundo o próprio tratou-se de uma provocação para provar que não é possível distinguir uma foto real de uma criada desta forma.

Rapidamente, a partir daqui, começou-se a argumentar sobre a utilização de programas de edição de imagem nas fotos, como o Photoshop ou outros do género. Mas trata-se de algo completamente diferente, já que neste processo da IA não houve qualquer lente ou máquina fotográfica envolvida, nem se captou nenhum momento – é “apenas” uma imagem criada artificialmente, sem qualquer ligação à realidade. Ora, por absurdo, podemos dizer que imagens criadas sem recurso a câmaras fotográficas já existem há muito tempo, são mesmo anteriores à invenção da fotografia. Uma pintura, uma gravura…

O problema novo aqui é o facto de a imagem poder enganar, confundir-se com a realidade, “criar” até uma realidade que nunca existiu. Sem querer entrar numa narrativa distópica, não é difícil perceber que isto pode ter começado com “inocentes” filtros automáticos nos sensores das câmaras dos smartphones. Já quase ninguém tira uma “selfie” sem recurso a filtros e embelezamentos automáticos. É até relativamente frequente haver quem prefira fotos tiradas com os telemóveis do que com câmaras profissionais. Afinal as do telemóvel aparecem com cores mais vivas do que a realidade, o céu é mais azul, as pessoas têm menos rugas e são mais elegantes. Procura-se constantemente uma versão melhorada artificialmente das coisas e assim a IA já anda por aí, criando a sua dependência, gerando novos parâmetros aos quais será difícil fugir.

Pois nesta nossa edição garantimos que nada foi criado com recurso a IA. Temos Saúde, Bem-Estar e Estética a abrir, onde também aí, claro, cada um(a) procura tratar de si da melhor forma e construir a sua melhor versão possível. Mas de forma real, cuidando verdadeiramente da Saúde da pele, do corpo e da mente, sempre a pensar no Bem-Estar. “Mens sana in corpore sano”, ainda que desviado do seu sentido latino original, continua a ser um mote perfeito e uma aspiração tão legítima como compreensível.

E continuamos a ter os muitos temas que caraterizam a nossa revista, desde as Mulheres Inspiradoras, literalmente de norte a sul do país, ao oceano que liga o mundo inteiro. Sim, falo da “Década do Oceano”, uma iniciativa que, dada a ligação de Portugal ao mar e o tamanho da sua zona económica exclusiva, tem uma enorme relevância. Talvez este assunto não tenha ainda o destaque necessário nos Media, pelo que nós fazemos a nossa parte.