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EDITORIAL | EDIÇÃO 37 | JUNHO 2023

Há precisamente dez anos, decorria na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, uma exposição sobre Clarice Lispector – “A Hora da Estrela”. A mostra, que tive a oportunidade de visitar, reunia fotografias, documentos pessoais e, claro, textos de uma das mais relevantes escritoras brasileiras. Assinalavam-se, na altura, 35 anos da morte da autora, nascida na Ucrânia.

O Público, numa parceria com a editora Relógio D’Água, teve a muito feliz ideia de publicar algumas crónicas de Clarice Lispector. Uma por semana, durante o tempo que decorreu a exposição, de abril a junho de 2013. Nove crónicas ao todo, as quais guardo ainda, já devidamente digitalizadas, porque o papel não é tão durável como as palavras que carrega nem como aquilo que nos motiva a guardar o que nos é querido.  

Os textos são de finais dos anos 60 a princípios dos anos 70 do século XX, retirados do livro “A Descoberta do Mundo”, uma coletânea de mais de 400 crónicas publicadas então no Jornal do Brasil. Nesta seleção do Público, Clarice Lispector fala-nos mesmo da sua Descoberta do Mundo, e por isso fala-nos de Amor, de Banhos de Mar, de Restos de Carnaval ou de Estado de Graça – de onde retiro este maravilhoso trecho:

“Nesse estado [de graça], além da tranquila felicidade que se irradia de pessoas e coisas, há uma lucidez que só chamo de leve porque na graça tudo é tão, tão leve. É uma lucidez de quem não adivinha mais: sem esforço, sabe. Apenas isto: sabe.”

É também de Clarice Lispector a ideia de que “a virtude da vida não está em fazer aquilo de que se gosta, e sim gostar daquilo que se faz.”

Humildade e força interior, a lembrar-nos Fernando Pessoa, “Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes.”

Foi essa “virtude” que me trouxe até este momento do texto. De salto em salto, mental ou emocional, aqui cheguei por se dizer que é no meio que está a virtude, no elogio da moderação e do bom senso.

Ocorreu-me o provérbio a propósito de termos uma representação bastante interessante do Centro do país nesta edição. Senão vejamos: Marinha Grande, Torres Vedras, Leiria, Peniche, Tomar, Caldas da Rainha ou Manteigas. Isto em temas que vão desde o Ensino Superior à Década do Oceano, das Mulheres Inspiradoras no Setor Automóvel à Cultura, entre muitos outros. Mas claro, temos mais temas, e o país representado de norte a sul.

Boas leituras, e que tenhamos um verão “leve”.