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“Temos um contexto único e muito favorável para qualquer viajante à procura da experiência de uma vida.”

Berta Cabral, Secretária Regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas

Depois de 2022 ter sido o melhor ano de sempre para o Turismo nos Açores, os primeiros indicadores mostram que 2023 poderá ser ainda melhor. Para além da natureza e das paisagens maravilhosas do arquipélago, quisemos perceber o que está a ser feito para que estes números sejam alcançados. Para isso, entrevistámos a Secretária Regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas, Berta Cabral, que não tem dúvidas em afirmar que os “Açores são o destino da atualidade, o must visit nacional do momento.”

Foi deputada na Assembleia da República e vice-presidente do grupo parlamentar do PSD. Antes já tinha assumido a presidência da Câmara de Ponta Delgada. Em 2013 tornou-se mesmo a primeira mulher a desempenhar as funções de Secretária de Estado Adjunta e da Defesa Nacional, tendo sido também a primeira mulher líder do PSD Açores. Depois de uma longa carreira política de grande notoriedade, o que significou para si assumir este cargo de Secretária Regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas dos Açores?

É mais uma missão ao serviço dos Açores, onde me empenho com todo o orgulho, dedicação e realização. Pessoal e profissionalmente, é algo que me diz muito, porque é a minha terra, pela qual sempre me bati. Fui convocada para este desafio pelo Senhor Presidente do Governo dos Açores e, como autonomista convicta e açoriana de “corpo inteiro”, não poderia recusar, principalmente tendo em conta todo contexto político, económico, social, na Região e a nível internacional. Aprendemos todos com o passado, mas a nossa visão tem que estar orientada para o futuro e, por isso, o que me move é contribuir para o progresso das nossas nove ilhas.

O ano passado foi o melhor de sempre para o Turismo nos Açores, no que ao número de dormidas diz respeito, superando os números de 2019, e fazendo “esquecer” os anos perdidos da pandemia. Quais medidas considera terem sido decisivas para estes excelentes resultados?

Em primeiro lugar, devo dizer que os “anos perdidos da pandemia” não foram esquecidos. Aliás, é preciso ter bem presente o que significou, para toda a economia, a ausência de turistas. Percebemos todos a importância que o turismo tem para a criação de valor e para a nossa qualidade de vida. Relativamente à sua questão, é relevante sublinhar que o sucesso de 2022 começou nos anos anteriores, nomeadamente na forma como a Região Autónoma dos Açores lidou com a pandemia. Há três fatores fundamentais para o sucesso: primeiro, as questões associadas à segurança sanitária foram determinantes. Os Açores tiveram um desempenho ímpar, de excelência, a nível nacional e internacional, na contenção e combate à pandemia. Isso criou uma confiança muito forte no destino. Em segundo lugar, houve, numa primeira fase, uma decisão estratégica promocional de aposta no mercado interno e nos mercados de proximidade. Daqui resultou a decidida aposta na dinamização do turismo interno e na implementação da Tarifa Açores, que permite que residentes na Região possam viajar entre ilhas por apenas 60€ round trip. Por outro lado, o mercado nacional foi o “alvo” principal daquela estratégia de proximidade – que foi uma aposta ganha – e que aliou a segurança, a proximidade e a principal proposta de valor do destino Açores – a natureza. Por fim, o terceiro fator, é o posicionamento como destino de natureza sustentável. A certificação internacional que conquistámos foi fundamental na criação de confiança e de atratividade, e foi precisamente ao encontro de uma tendência da procura que se intensificou no pós-pandemia, que é a procura por destinos de natureza, atividades outdoor e locais sustentáveis e não massificados.

Os Açores foram o primeiro arquipélago do mundo classificado como destino sustentável, como acabou de referir. Para além das caraterísticas naturais que tornam este destino verdadeiramente único, que outros fatores contribuem para que sejam um “caso internacional de sucesso do turismo sustentável”, como afirmou recentemente?

O desenvolvimento sustentável tem fundamento no progresso equilibrado de três pilares – o económico, o social e o ambiental – e os Açores são um exemplo nesse aspeto. As nossas características naturais, bem como a sua devida preservação e proteção, têm sido fundamentais e são amplamente reconhecidas. Temos, também, uma autenticidade e uma genuinidade que já é difícil encontrar em qualquer lugar do mundo e que é multiplicada por nove: somos nove ilhas, cada uma com a sua realidade muito particular e com especificidades culturais e comportamentais que enriquecem e criam uma diversidade incrível para qualquer viagem. Somos uma região segura, tranquila e acolhedora, onde é possível desfrutar da experiência e da viagem. Para além disso, é crítico não esquecer que o normativo que nos certificou como “Destino Sustentável” baseia-se em vários critérios, uns objetivos e outros subjetivos, que demonstram uma performance ambiental, económica e social de excelência. Aliás, no processo de benchmarking a que somos sujeitos anualmente, em vários indicadores lideramos de forma inequívoca. Temos, portanto, um contexto único e muito favorável para qualquer viajante à procura da experiência de uma vida.

Vê no Alojamento Local dos Açores “um parceiro importante e fundamental para a melhoria e diversificação de oferta turística no arquipélago”. Lembrou o contributo desta atividade para a “reabilitação urbana”, por exemplo, e acrescentou um ponto que, sendo da maior importância para a Economia regional e nacional, parece muitas vezes ser esquecido – “a democratização do rendimento”. Numa altura em que vemos serem anunciadas medidas pelo Governo da República que podem ameaçar a viabilidade deste setor, podemos afirmar que, nos Açores, quem vive do Alojamento Local pode estar mais tranquilo?

Efetivamente, reconhecemos no Alojamento Local um importante ativo do desenvolvimento da oferta turística nos Açores, e já assinalámos, em várias ocasiões, que tem um contributo muito relevante para a atração de  uxos turísticos para freguesias periféricas, para a valorização do território, para a reabilitação urbana, e para a democratização do rendimento. Esperamos que assim continue. Porém, medidas já anunciadas pelo Governo da República causam-nos alguma surpresa, pois as Regiões Autónomas não foram consultadas. O Senhor Presidente do Governo dos Açores já teve a oportunidade de dizer que não abdicamos do nosso poder autonómico e que assumiremos a nossa posição nesta matéria.

Por último, e porque infelizmente não temos mais espaço disponível, pergunto-lhe quais são as suas expectativas para o futuro do Turismo nos Açores? Qual a mensagem que quer deixar a quem trabalha direta e indiretamente neste setor e a todos aqueles que equacionem visitar o arquipélago em 2023?

Temos grandes expetativas para o ano de 2023, obviamente sempre com a cautela que a conjuntura internacional nos exige. Os primeiros dados do ano demonstram o melhor mês de janeiro de sempre e todas as informações recolhidas recentemente na BTL apontam para um ano histórico. Estamos muito orgulhosos com esta prestação do setor do turismo nos Açores e amplamente reconhecidos a todos os agentes do mercado que têm possibilitado que isto aconteça. Na semana passada, também na BTL, o Presidente da APAVT revelou que os Açores foram a região escolhida como o “Destino Preferido 2023”, destacando a nossa modernidade e sustentabilidade. Os Açores são o destino da atualidade, o must visit nacional do momento. É uma oportunidade única para todos os que têm o desejo de visitar a Região.