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Café Alentejo: história e riqueza gastronómica tipicamente alentejana

Quem desce a Rua do Raimundo, em Évora, para além de vários edifícios tradicionais, encontra à esquerda o centenário Café Alentejo. No interior do restaurante, Rita Simão, a atual proprietária, e uma vasta equipa preparam e servem um conjunto de iguarias alentejanas que contribuem para manter viva a gastronomia portuguesa e, acima de tudo, a da região.

Apesar de ter passado parte da infância em Lisboa, Rita Simão nasceu e viveu até aos três anos na cidade de Évora, onde regressou quando decidiu fazer a licenciatura em gestão na Universidade de Évora. Enquanto estudante, frequentava muitas vezes o Café Alentejo e, certo dia, agradada com toda a envolvência do espaço, disse à ‘Dona Isabel’, que era quem geria o estabelecimento na altura: “assim que se fartar do negócio eu tomo conta”.

Em 1999, eis que surge a tão desejada oportunidade de ficar com o Café Alentejo, um espaço emblemático inserido num edifício do século XV, que serviu de estalagem à família real quando visitava a cidade. Se em 1900 começou por ser uma casa de pasto e, outrora, foi uma taberna, atualmente é um restaurante tipicamente alentejano.

O gosto que Rita Simão tem pela cozinha, e que lhe foi passado na infância, fez com que, ao longo da vida, em festas com amigos, se disponibilizasse sempre para confecionar as refeições, ao mesmo tempo que contribuiu para adensar a vontade de gerir um restaurante. “Na minha família houve sempre uma grande tradição de estar à mesa, de fazer quilómetros para ir comer e também de saber cozinhar. Por exemplo, eu aprendi com a minha avó e com a minha mãe”.

25 anos a servir comida de conforto com qualidade

Foi a 9 de junho de 1999 que o Café Alentejo, apesar de manter o icónico nome e a singular estrutura arcoense, ganhou uma nova ‘vida’. Ainda que o início tenha sido marcado por alguma inexperiência “porque ninguém tinha formação na área”, com o decorrer dos anos, a trajetória foi-se encaminhando para fazer jus ao próprio nome e tornou-se numa montra do que de melhor se faz na região. “Atendendo às tendências da restauração, a ideia de partilhar e experimentar sabores e de ter uma experiência com o que de melhor há no Alentejo é um bocadinho o nosso conceito”.

Para além dos queijos, enchidos, presuntos, cogumelos, espargos verdes salteados unicamente em azeite, farinheiras, linguiças, ovos mexidos e gambas panadas, dispõem ainda de vários tipos de sopas, um dos ex-líbris alentejano, que aqui é confecionado “como se fosse nas nossas casas”, uma vez que estamos perante uma “cozinha de conforto”. São elas a sopa de cação, açorda alentejana e sopa de peixe com hortelã da ribeira, “que é incrível porque tem o sabor das ervas que conjugadas dão um toque delicioso”. Servem ainda migas e porco alentejano, “que é uma receita que também vem de família”, bochechas assadas no forno, carne frita de alguidar, e as especiais: rabo de boi estufado em vinho tinto do Alentejo, arroz de pato tostado e Bacalhau à Brás.

Relativamente às sobremesas, não faltam os doces conventuais tradicionais da região, como é o caso da sericá, da encharcada e do torrão real de Évora, bem como bolo de chocolate e mousse. “Chegámos a ganhar um prémio com o pudim de queijo de Serpa, com creme de laranja e hortelã, que é diferenciador, bom para vir provar”. Muitos dos produtos utilizados no Café Alentejo são de produtores locais, uma vez que a proprietária tenta contribuir para uma economia circular e valorizar o que de melhor ali é produzido.

Existe um espaço no restaurante onde se encontra uma garrafeira climatizada que alberga os melhores vinhos de cada zona do país, além do Honoris, a marca da casa. “Como sou uma apaixonada por vinhos, uma coisa que me dá imenso prazer é produzir e andar à procura de vinhos de produtores diferentes para partilhar com quem nos visita”.

O passado, o presente e o futuro

Se nos primeiros dez anos, às quintas-feiras, Rita Simão organizava noites de fado, hoje em dia dá espaço ao cante alentejano. A par disto, proporciona experiências gastronómicas onde qualquer pessoa pode participar através de inscrição prévia. “É uma experiência de proximidade e de mostrar um bocadinho o que aqui há no Alentejo”. Também a nove de cada mês “há sempre algo especial, de um determinado tema, a acontecer”. Por exemplo, no dia 9 de março vai ser lançado um novo vinho.

Ao fim de mais de duas décadas, o balanço feito pela proprietária é “muito positivo”. O facto de o espaço ser “bonito e descontraído e de oferecer o que de melhor se faz e existe no Alentejo” é, na sua opinião, a par da resiliência, perseverança, entusiasmo, dedicação, autenticidade, veracidade e inovação, o que tem contribuído para o sucesso. De forma a mantê-lo, o objetivo de Rita Simão passa por dar continuidade ao que tem vindo a fazer, adaptando-se às pessoas que visitam o espaço.

“Em primeiro lugar, desafio as pessoas a virem a Évora, uma cidade muito bonita, que é património da humanidade e tem uma luz espetacular. Em segundo, desafio as pessoas a virem conhecer o Café Alentejo, a terem uma experiência à mesa num sítio de encontros e de partilha”. O convite fica feito e nós prometemos voltar.